15.8.06

Limpeza a seco


Um dos feitos mais relevantes de Fidel Castro foi a eliminação de um grande número de opositores ao seu regime, fossem eles safardanas da pior espécie, trafulhas de médio calibre ou, porque não, indivíduos honestos com opiniões discordantes ou uma visão diferente do que a transição política deveria ser. Seja qual for o caso, em todas as guerras há baixas civis, como agora se ouve dizer muito, e a limpeza a eito deverá ter ceifado algumas notáveis cabeças. Menos mal, se não há corruptos também não haverá ideólogos comichosos e o discurso será exclusivamente de cartilha oficial. Moral da história? Não há. Os encarniçamentos originam condenados e, em processos revolucionários, condenados originam execuções. Fidel reinou enquanto pôde, impôs um longo e persuasivo “discurso”, mas parece ter chegado a hora de cair da cadeira, salvo seja. Há demasiadas multinacionais neste mundo à espera de trincar aquele pedaço apetitoso de terra e a comédia humana tratará de se desenrolar da forma mais previsível. O dique rompeu-se finalmente, mas fica a convicção de que não há nada como um extermínio calculado para garantir a segurança e a estabilidade governativas, quer como medida profilática para as jovens democracias, quer para proporcionar novos arranques da economia ou dos costumes. De acordo com a generalidade dos observadores, aliás, os inimigos primordiais de Fidel continuarão mortos mesmo depois da queda do actual líder cubano. Fale-se de visão política mas, sobretudo, de uma notável gestão do espaço afectivo.

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