Debatia-me no outro dia com o facto de só me recordar dos títulos dos filmes no original, em inglês e em francês, pelo menos. O que poderia ser considerado pretensioso é apenas uma forma natural de apropriação mnemónica, decorrente do envolvimento que tenho com eles. Da mesma forma que decoro o nome dos actores com facilidade. Bom, o certo é que tentei listar os filmes que me marcaram, de formas diversas em períodos específicos, e não conseguia recordar as muitas vezes descabeladas traduções portuguesas. Este é um repositório solipsista da minha memória, uma vez que não posso enfiá-lo no perfil e irá exigir ampliação. O cinema, para mim, continua a valer a pena acima de qualquer outra manifestação artística. É a mais compósita, intensa e verdadeira, onde mais facilmente uma - qualquer uma - personalidade se pode perder e (re)encontrar. E assim aconteceu comigo, na elegância inquieta de André Téchiné, na emotividade visceral de John Cassavetes e na voz única, constantemente reinventada e enriquecida, de Woody Allen e Pedro Almodóvar. E assim será, com estes e muitos outros, espero, embora cada vez mais a indústria cinematográfica (porque a é) tenda a produzir uma polpa genérica de entretenimento para um público grosseiramente entorpecido pelo marketing. Não acredito que a objectificação crescente das expectativas e das ansiedades seja responsável pela morte do cinema enquanto arte, mas acredito que a oportunidade de ver bons filmes irá decrescendo, pelo que tal experiência deve ser estimada e partilhada.
Ao pensar nestas coisas percebi que muitos dos filmes que me impressionaram em tempos idos lidavam com questões então completamente abstractas, mas que se revelariam proféticas, atendendo ao novelo progressivo das situações, sentimentos e relações que a vida me foi oferecendo (e eu a ela). Deve ser assim com toda a gente. Em todo o caso, aqui não pontuam comédias românticas.
Sem comentários:
Enviar um comentário