3.5.10

Quando "liberdade" é uma força de expressão



A Bélgica é o primeiro país europeu a proibir o uso em locais públicos do véu islâmico (burca e niqab). A interdição estende-se a ruas, lojas e edifícios e exceptua festividades como o carnaval. É uma medida peremptória por parte de um país que já tem leis locais a banir o uso de acessórios que cubram o rosto do cidadão, em escolas e em edifícios da administração pública. Outros países europeus começam a aplicar medidas semelhantes, mas o receio de represálias ainda se impõe à vontade pública e política. Entretanto, esta iniciativa da Bélgica já deu azo à mais variada retórica pseudo-liberal sobre a liberdade individual num Estado Democrático de Direito. Mas então, digo eu, o Estado como tal não existe também para impedir manifestações individuais ou colectivas de extremismos que afectem a concepção do mundo dos seus cidadãos? Porque o véu islâmico é ofensivo. Da liberdade, do progresso social e do auto-desígnio. Não se rege por nenhum princípio mimimamente integrado no nosso modelo social, antes pela expressão acintosa da sua rejeição, através da exclusão e do autoritarismo. Mesmo que pelas vozes de algumas destas mulheres se faça ouvir uma aceitação mais ou menos lobotomizada da sua "condição". Menos mal que, por enquanto, ainda se podem manifestar. Não tardará que os poucos direitos que possuam sejam trancados a sete chaves e a transgressão punida com um apedrejamento público. Sim, há limites à expressão da nossa individualidade, prenda-se ela ou não com crenças religiosas. Qual é a surpresa? Acaso alguém passeia pela rua com uma meia de senhora enfiada na cabeça, sem consequências? E um casal a ver as montras no centro-comercial, ao domingo à tarde, enfiado nos seus trajes sado-maso? Ou eu agora decidir que a minha religião me ditava que andasse nu, só com meias, ali para os lados da Loja do Cidadão nas Laranjeiras? Só porque existe uma consciência "religiosa", medieva, repressiva e brutal, que se impõe aos costumes de um país, aos preceitos de uma cultura, a todas as conquistas sociais partilhadas e ao mais primário bom senso, eu tenho de levar com ela? Não só o Estado tem a obrigação de agir para me proteger como é moralmente responsável por libertar as mulheres daquele jugo. Quem não aceitar vá ser fanático em locais destinados ao efeito, tipo clubes de asfixia, saunas de sudação extra e cooperativas do cinto de castidade, ou então regresse ao buraco negro que o cuspiu.

2 comentários:

Mono disse...

Absolutamente!
Às vezes fico algo confuso com a questão da liberdade e da democracia, e o como afecta a questão da burka, mas o teu texto elucidou-me.

João disse...

É uma perspectiva, haverá outras, devidamente fundamentadas. Mas é essencialmente uma questão de senso comum, parece-me.

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