Olá. Vieste para ficar? Tive saudades, hum, salmonadas?, mas se me tivesse manifestado já tinhas aqui 25 comentários todos iguais. E em vez do texto do Fialho tinhas arranjado um belo quadro gordo dizendo S.O.S. PS: O teu Fialho era um ás da língua! (Já não há quem escreva assim, pois não?) Só ali aquela "inferioridade antropológica do negro"...
Posso afiançar-te que, felizmente, já não há quem escreva assim. Ideologicamente, sou muito pelo Fialho e pelo Ramalho, mas linguisticamente, o portugês teve de se libertar de muito atafulho, atilho e atavio para se tornar um instrumento simultaneamente elegante e prático. E mesmo assim vamos a meio do caminho. Era o melhor português da altura, para quem se podia dar ao luxo de entretecer.
Acho que não estamos a falar das mesmas coisas:). Se é uma escrita elegante? Concordo contigo, agora é mais. Ou, pelo menos, tornámo-nos mais anglófonos e menos francófonos, nas estruturas. Sem dúvida. Estava a referir-me à quantidade de palavras que fomos perdendo entretanto. Morrinhenta, azorrague, assovacar, inermes, chufa, vesânias... Ainda ontem peguei em contos do Cardoso Pires e pensei: aqui está exactamente a forma como fala o português. Mas talvez tenhas razão- é a forma como falava uma geração mais velha, que ainda ouvimos nas ruas, nas lojas, nos cafés. Mais na "província"- esse termo tão querido por aqui- que em Lisboa. Sim, o português está mais elegante (a língua). Mas perdeu alguma coisa pelo caminho. Não que queira ser saudosista... Mas é quase como olhar para outra pessoa, não é? É uma identidade diferente. Voilà. Não é melhor nem pior, é diferente. E eu leio agora estas coisas e dou por mim a pensar: eu não conheço a minha língua. Shame on me:). Bom, obrigada por ires... dando umas aulas:)!
A meu ver, não é necessariamente por haver mais palavras que a referência é mais rica, embora ajude. A meu ver, é a escolha das palavras com maior poder referencial e/ou que permitem maior flexibilidade e enriquecimento estrutural. Quero dizer que, se escolhes 'simples', tens muito mais opções do que se escolhes 'símplice' ou 'individuado'. E aqui entra a oralidade, a fonética, etc. Na altura suponho que se escrevesse assim mas que a prática oral fosse menos bicuda. Claro que me assusta a perda de vocabulário, mas sou pela funcionalidade e creio que a diferença reside na qualidade das escolhas, não na quantidade. Quais 'aulas'? Obrigado pelo diálogo.
:) As aulas do Fialho! Achas que há muita gente a postar textos do Fialho e do Ramalho em blogues do século 21? O Eça é que está bem cotado! Mas não é isso que interessa. O que eu queria dizer é: adoro falar contigo, é sempre um desafio:)!
6 comentários:
Olá. Vieste para ficar? Tive saudades, hum, salmonadas?, mas se me tivesse manifestado já tinhas aqui 25 comentários todos iguais. E em vez do texto do Fialho tinhas arranjado um belo quadro gordo dizendo S.O.S. PS: O teu Fialho era um ás da língua! (Já não há quem escreva assim, pois não?) Só ali aquela "inferioridade antropológica do negro"...
Posso afiançar-te que, felizmente, já não há quem escreva assim. Ideologicamente, sou muito pelo Fialho e pelo Ramalho, mas linguisticamente, o portugês teve de se libertar de muito atafulho, atilho e atavio para se tornar um instrumento simultaneamente elegante e prático. E mesmo assim vamos a meio do caminho. Era o melhor português da altura, para quem se podia dar ao luxo de entretecer.
Acho que não estamos a falar das mesmas coisas:). Se é uma escrita elegante? Concordo contigo, agora é mais. Ou, pelo menos, tornámo-nos mais anglófonos e menos francófonos, nas estruturas. Sem dúvida. Estava a referir-me à quantidade de palavras que fomos perdendo entretanto. Morrinhenta, azorrague, assovacar, inermes, chufa, vesânias... Ainda ontem peguei em contos do Cardoso Pires e pensei: aqui está exactamente a forma como fala o português. Mas talvez tenhas razão- é a forma como falava uma geração mais velha, que ainda ouvimos nas ruas, nas lojas, nos cafés. Mais na "província"- esse termo tão querido por aqui- que em Lisboa. Sim, o português está mais elegante (a língua). Mas perdeu alguma coisa pelo caminho. Não que queira ser saudosista... Mas é quase como olhar para outra pessoa, não é? É uma identidade diferente. Voilà. Não é melhor nem pior, é diferente. E eu leio agora estas coisas e dou por mim a pensar: eu não conheço a minha língua. Shame on me:). Bom, obrigada por ires... dando umas aulas:)!
A meu ver, não é necessariamente por haver mais palavras que a referência é mais rica, embora ajude. A meu ver, é a escolha das palavras com maior poder referencial e/ou que permitem maior flexibilidade e enriquecimento estrutural. Quero dizer que, se escolhes 'simples', tens muito mais opções do que se escolhes 'símplice' ou 'individuado'. E aqui entra a oralidade, a fonética, etc. Na altura suponho que se escrevesse assim mas que a prática oral fosse menos bicuda. Claro que me assusta a perda de vocabulário, mas sou pela funcionalidade e creio que a diferença reside na qualidade das escolhas, não na quantidade.
Quais 'aulas'? Obrigado pelo diálogo.
:) As aulas do Fialho! Achas que há muita gente a postar textos do Fialho e do Ramalho em blogues do século 21? O Eça é que está bem cotado! Mas não é isso que interessa. O que eu queria dizer é: adoro falar contigo, é sempre um desafio:)!
E não é que escrevi "a meu ver" duas vezes... Vista cansada. Temos de falar ao vivo.
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