22.7.08

Fracturas

"Cavaco promulga acordo ortográfico

O presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, já promulgou o Acordo Ortográfico, ratificado no Parlamento a 16 de Maio deste ano, disse, ontem, à agência Lusa, fonte oficial da presidência.


O Acordo Ortográfico só poderá entrar em vigor depois de estarem depositados todos os documentos de ratificação no Ministério dos Negócios Estrangeiros, segundo fonte do Ministério da Cultura.


O Segundo Protocolo do Acordo Ortográfico, cuja ratificação era essencial para a entrada em vigor do acordo, foi aprovado no Parlamento a 16 de Maio com os votos favoráveis do PS, PSD, Bloco de Esquerda e sete deputados do CDS."


JN Online, 22-07-08



Com a rejeição generalizada da população que cresceu com o Acordo anterior, esta nova grafia vai ter pouco valor prático, mesmo que seja adoptada publicamente em suportes informativos, publicitários, etc. Quem é que tem cabeça para assimilar as novas regras morfossintácticas (mais propícias a erros de hipercorrecção e a confusões orais - "fato" vs. "facto")? É algo que se vai instalar lenta e vagarosamente e que se imporá, finalmente, através de novas faixas demográficas cultas. O que me preocupa mais é a sua actualização de facto. Receio que as instituições de ensino não tenham capacidade para consolidar uma norma, temo pelas frágeis estruturas linguísticas dos mais novos, mas prevejo ainda mais dificuldades para os teóricos, linguistas e gramáticos, que têm de construir uma ponte artificial para o étimo, de forma a preservar o sentido original da palavra. Há também que arranjar justificações plausíveis para a subsistência de certas formas e a extinção de outras. E como dificilmente acontecerá uma modernização do ensino do Latim, a distância entre a origem e o seu correlativo será cada vez maior, assim como a ambiguidade e, por consequência, o desrespeito a uma convenção. A língua não é um instrumento abstracto. Não pode voar sem uma matemática específica, sem apetrechos adequados. Para se poder evoluir tem que se saber respeitar o edifício em que está instalada, e este governo, como em tantas outras situações, só retocou a fachada sem se preocupar com rigorosamente mais nada. Querem lá saber, a única língua que os escroques falam escreve-se em €. Veremos o que fazem as futuras gerações com o que vão herdar, e espero que haja iniciativas visíveis e sólidas no sentido de modernizar e harmonizar a língua, pois a ideia é que não estamos sós. Quanto a mim, vou tentando o bilinguismo.

3 comentários:

Anónimo disse...

Importas-te de ser a minha gramática? Para além de todas as outras coisas? Não é muito romântico, eu sei, nem um gesto grandioso de amizade, mas poderia ter um impacto tremendo;)... para mim e para alguns outros...

João disse...

Sim, Mafalda. Deixa-me ser a tua gramática e encher-te de particípios presentes.

Anónimo disse...

Mais um pouco e escrevias-me um poema;)... Vale, cariño, antes presentes que passados:)!

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