28.6.06
Reconciliação
O imaginário de François Ozon é povoado por referências carnais e etéreas em proporção igual - excepção feita ao puro gozo camp de "8 Mulheres" -, pelo que "O Tempo que Resta" é uma meditação algo fetichista, algo atmosférica sobre a (homos)sexualidade, a solidão e a morte em face do valor redentor, e constantemente adiado, do amor nas suas diversas encarnações. Perante a iminência da morte, a personagem de Melvil Poupaud luta por recuperar a humanidade, por entre os estilhaços de cinismo e vaidade cravados numa vida de consistência incerta. Assistimos a uma busca comovente por um passado perdido, à tentativa de recuperação de um presente irremediavelmente danificado e à reconciliação íntima de um homem condenado, antes da morte, por si próprio. A entrega total de Poupaud e a realização sóbria e anti-retórica de François Ozon dão-nos um filme franco e sensível, se bem que, a passos, demasiado frio. É certo que Ozon não resiste a algum efeitismo gay, mas, bom, é um filme de autor. Os puritanos que procurem outras paragens.
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