28.6.06
Destaque nacional
O sangue fala mais alto. Está enquinado, mas é o nosso. Um Mundial é muita fruta mas rendi-me, pronto. Viva Portugal e mai' não sei quê.
América de plástico
A principal virtude de "Os Amigos de Dean" é a capacidade de orquestrar um vasto e respeitável elenco como um meio e não como um fim. Glenn Close é a mãe suburbana em desagregação, Carrie-Anne Moss a balzaquiana da porta ao lado, Ralph Fiennes, debatendo-se com o sotaque de origem, um político de pacotilha renascido para um new age de pechisbeque e Rita Wilson a histriónica e egoísta aspirante a primeira dama. Estas e outras personagens enriquecem uma paisagem que, de outra forma, não teria cor nem picardia, lançando a história, tão amarga quanto descomprometida, num abismo niilista que não serviria tão bem essa imagem de uma América de plástico, mesquinha e tonta, da qual é preciso rir antes de se levar a sério. Dean (um contido Jamie Bell) transporta o pathos e a sabedoria e, perante o absurdo que se amontoa à sua volta, acaba por ser o móbil da (breve) responsabilização da comunidade de adultos perante os seus póprios actos e os dos jovens que pretendem moldar à sua medida. Estão longe daqui a revolta e a corrosão de "Beleza Americana", mas o desempenho dos actores e a vaga tristeza que percorre o argumento fazem de "Os Amigos de Dean" um bom antídoto para o enjoo dos blockbusters de Verão.
Reconciliação
O imaginário de François Ozon é povoado por referências carnais e etéreas em proporção igual - excepção feita ao puro gozo camp de "8 Mulheres" -, pelo que "O Tempo que Resta" é uma meditação algo fetichista, algo atmosférica sobre a (homos)sexualidade, a solidão e a morte em face do valor redentor, e constantemente adiado, do amor nas suas diversas encarnações. Perante a iminência da morte, a personagem de Melvil Poupaud luta por recuperar a humanidade, por entre os estilhaços de cinismo e vaidade cravados numa vida de consistência incerta. Assistimos a uma busca comovente por um passado perdido, à tentativa de recuperação de um presente irremediavelmente danificado e à reconciliação íntima de um homem condenado, antes da morte, por si próprio. A entrega total de Poupaud e a realização sóbria e anti-retórica de François Ozon dão-nos um filme franco e sensível, se bem que, a passos, demasiado frio. É certo que Ozon não resiste a algum efeitismo gay, mas, bom, é um filme de autor. Os puritanos que procurem outras paragens.
Muita cinza...
O único génio do mal que por aqui espreita é a eminência parda que arquitectou esta enormidade requentada. "The Omen - O Génio do Mal", pisa chão mais do que calcorreado (já o original não era grande espingarda e um sucedâneo de filmes maiores - nomeadamente "O Exorcista", de William Friedkin) de forma pretensamente sofisticada: grandes meios, actores jovens e atraentes e uma arrevesada associação do demónio a acontecimentos históricos que culminam na derrocada das Torres Gémeas. John Moore, que devia ter o diabo no corpo quando realizou o frenético Behind Enemy Lines, o seu primeiro filme, parece ter adormecido atrás da câmara e dado rédea solta ao perchista e ao director de fotografia para combinarem enquadramentos que desafiam o racional.
Entre um anúncio à cerveja Guiness e as sobras de tomadas aéreas de "O Senhor dos Anéis", "O Génio do Mal" é lento, primário, desarticulado e risível, sendo a prestação de Mia Farrow um dos pontos altos da comédia. Por aqui se passeiam também Michael Gambon, Pete Postlethwaite e David Thewlis, para os quais um cheque guloso deve justificar as figuras mais tristes. Quanto ao miúdo, é de uma inexpressividade confrangedora. "O Génio do Mal" é uma enorme campanha de marketing que se esqueceu de trazer um filme associado. Mesmo para os indefectíveis do género, não há tolerância para isto.
Subscrever:
Mensagens (Atom)