25.8.08
Filhos de Nelson
Ponham-se os olhos em Nelson Évora. Nestes tempos em que Portugal necessita desesperadamente de ídolos, dá-se fácil caminho ao excesso: de expectativas, de alienação, de futilidade, de incensações desproporcionadas. Temos um "super-puto", que tem muito de puto e pouco de super, herói de crianças e pais de família, macho alfa para as mulheres e gaiatas de gosto curto. Para além de jogar bem à bola, reescreveu aos pontapés os conceitos de discrição e bom senso, instituindo a putanhice cachaçuda como manifestação do orgulho nacional, ao mesmo tempo que define a proeminência da flauzina lusitana. Li algures que Ronaldo foi nomeado “Ícone Gay nº1” (fale--se de futilidade) por parte da respectiva comunidade, seja lá o que isso for. Esclarecedor, direi eu. Já a imprensa cascou forte e feio nos atletas que nos representaram nas Olimpíadas, achando que eles deviam (sabe-se lá porquê) ter obtido resultados destacados. Com a mesma trivialidade com que criam e destroem “personalidades” para consumo rápido de mentes flácidas. Sem qualquer interesse em reflectir conclusões importantes, fazendo uma análise aprofundada, e, sobretudo, um mea culpa pela ignorância e pelo silêncio a que votam qualquer manifestação desportiva para além do futebol. Enterrados os atletas, achincalhado o COP e deitadas mais achas para a fogueira da miséria nacional, Évora arrecada o ouro. Param as rotativas, já centradas noutras carnificinas, e o embalo negativo não dá ao triunfo de Nelson o abraço e o sentido que merece. O de um atleta que não sucumbiu a pressões despropositadas nem à acrimónia nacional. Que fez o seu trabalho com rigor e sangue-frio. Que celebrou a medalha dedicando-a ao pai. Que ganhou com nobreza e demonstrou uma notável contenção no discurso. Esta medalha é dele e mais nada. Este é um país que deve agradecer ter um atleta assim, mas não o inverso.
22.8.08
P'ós modernos
As feiras medievais estão na moda e a de Silves é particularmente concorrida, a ver pelos magotes de gente que lá paravam todas as noites, comendo petiscos com maneiras arcaicas, percorrendo as tendinhas à procura da recordação adequada, assistindo às diversas representações e animações de rua... O ambiente geral, apesar de fazer lembrar um outlet ao ar livre em dia de ofertas, era de galhofa e despretensão, notando-se um investimento real na recriação da atmosfera. Tentei apanhar alguns momentos de fusão temporal, com particular destaque para a barraca das gomas medievais, guloseima favorita de D. João III, que as devorava enquanto lia a Bíblia.
Sistema imunitário
Sou imune ao iPod, ao iTouch, ao iPhone e a outras derivações. Não tenho nem nunca aspirei a ter, embora entenda por que se tornaram objectos de desejo e saiba que vão marcar uma era. Antes disso, a Apple era para mim a materialização tecnológica da funcionalidade com pinta, cuja parafernália se destinava a uns quantos que faziam do estilo um modo de vida. Hoje continua a ser e instituiu-se como uma maneira de estar massificada, que não vai bem com este modesto partidário da iconoclastia. Simplesmente, agora chegou um MacBook a casa, que não é meu e veio disputar território do vetusto PC. Eu fiquei com inveja. E o PC também.
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