8.1.15

Porque é bom o ano novo



Com o ano novo muita coisa fica velha. Pessoas e histórias. Eu bem sinto o que me fazem os anos novos. Que isto não me traz vantagem nenhuma. E poupem-me à perspectiva propagandística de um recomeço. As pílulas que ando a engolir não precisam de ser douradas, obrigado. Mas como dizem que a antiguidade nos outorga certos direitos, porque, bom, é isso, não se discute com velhos e loucos – ou velhos loucos –, vou aproveitar. Ocorreu-me que está na altura de me cagar em certos assuntos. De mandar à merda sem ter de o dizer ou de o fazer com todas as letras, porque me enche a boca de satisfação catártica. De efectuar uma auto-análise a plenos pulmões no meio da Praça da Figueira, porque as luzes lá são bonitas. (Cada novo ano me atrai mais para as luzes bonitas.) Posso e devo fazer aquilo que me apetecer, do abraço sentido à acendalha oportuna, sem esquecer a indiferença, essa soberana. É tempo de colocar o auto-desígnio acima de tudo, deixando-me embalar pela sua já acentuada miopia. Os anos provocam erosão nas coisas que nem sabemos que estimamos. Quando finalmente lhes queremos dar uso, compraz-se em dizer-nos que já é tarde. Por isso é desbundar antes que acabe o que restou. Já entrei naquela fase em que, aos olhos de algumas pessoas, certas reivindicações que me são devidas não passam de sinais de incontinência. Como disse, estou-me a cagar. A essas, nem os anos me vão levar o direito de desejar um vigoroso, enfático e cosmopolita: go fuck yourself.

Sem comentários:

Arquivo do blogue