20.4.10

Some like it hot

Suppose we were able to share meanings freely without a compulsive urge to impose our view or to conform to those of others and without distortion and self-deception. Would this not constitute a real revolution in culture?

David Bohm

É o grande problema dos suportes de comunicação virtuais. E a sua grande conveniência. Neste âmbito, e entre as chamadas redes sociais, o Facebook impõe-se pela maior ligeireza e desprendimento no processo comunicativo. Não há confronto, não há contraste nem antítese. Há o statement a vulso, com ou sem significado, mas uma qualquer afirmação que, quando muito, é reflectida, quase sempre anuída. Comentar, no meu entender, compreende um esquema de raciocínio mais complexo, com escolhas e as suas implicações. A comunicação assim sustentada não constitui desafio nem apresenta ambiguidade. Não questiona nem é questionada. E traduz a necessidade de ser ouvido sem ouvir, sem particularizar, com a maior amplitude possível e de forma indescriminada. E essa amplitude, para mim, é a de um grande e inexpressivo eco.
Esta conversa porque recentemente caí de um desses poleiros mediatizados pelo ecrã e pelo teclado, a julgar que há alguma coisa, algum dia, que substitua o diálogo. Como escreveu William Isaacs, um especialista na matéria: "In skillful discussion, you make a choice; in a dialogue, you discover the nature of choice. Dialogue is like jazz; skillful discussion is like chamber music". E isto fez-me lembrar sexo e natureza e espontaneidade. Experimentem lá levar alguém para a cama com música de câmara a tocar. Está tudo dito.

7 comentários:

Mono disse...

Concordo contigo. O Facebook e afins são uma verdadeira boçalidade onde apenas se vê um status quo imaginário.
Tem a piada de encontrar aquele pessoal que não vemos há mil anos, mas depois da euforia inicial ficamos naquela de "se não via esta pessoa há tanto tempo é porque provavelmente não tinha grande interesse nela e vice-versa". A verdade está algures no meio.

João disse...

Não sou tão radical. O imediatismo é irresistível e uma forma de purga basta-juntar-água para muita gente (e o que dizer do Twitter?). É uma coisa real quando tens 300 seguidores, mas inconsequente do ponto de vista comunicativo.
Tudo isto é algo imaginário, sim. Farmville? WTF? Os amigos de outros tempos são agora imaginários, mas ganharam ali o seu cantinho de boas intenções e zero produtividade.
A verdade é que nada muda. Só há mais é convites para tudo, que toda a gente ignora.

João disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Mono disse...

Mas por outro lado... Aconteceu-me há dias encontrar um amigo nosso que já não via desde os tempos em que não tinha cabelos brancos (ele e eu) e apesar desse lapso temporal, houve uma certa familiaridade entre nós, no sentido de saber o que ele andava a fazer através do Facebook. Em contrapartida ele pouco sabia do que eu andava a fazer, uma vez que não divulgo essas coisas lá.
E apesar de tudo, a maior parte dos meus amigos são os de há dez ou mais anos atrás, apesar de no entretanto ter conhecido toneladas de pessoas. Lembro-me de termos tido uma conversa acerca deste assunto naquele barzinho ao cimo dos Combatentes, com o Arinto e algumas cervejas a mais. A vida muda, evolui, o tempo escasseia e o convívio é cada vez menor. Vou jogar no euromilhões :P

João disse...

Pois, que a vida muda, mas se evolui... Pelo menos tens sorte de conhecer malta nova, eu é raro. E embora não divulgue nada no facebook, o blog serve para manter um contacto mais 'intelectualizado', e é assim que sei coisas que se passam, p.ex., na tua vida. Um blog é diferente, é mais expressivo, permite manter uma noção mais clara. Acho eu. E deu-me nostalgia e pergunto-me porque é que, à falta de Coimbra, um gajo não se encontra por Lx. É mais provável vires tu cá do que eu a Aveiro ou ao Sabugal. Pega lá no telefone ou no mail e marca aí uma cerveja pelos velhos tempos.

Mono disse...

LX? Tem sido raro... Passei aí segunda feira, mas fui só a uma reunião e back to home. Da próxima vez que tiver algo marcado, aviso com antecedência para irmos até ao Bairro.

João disse...

Combinado, cá te espero. Logo vemos quem tem mais cabelos brancos :P

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