Suppose we were able to share meanings freely without a compulsive urge to impose our view or to conform to those of others and without distortion and self-deception. Would this not constitute a real revolution in culture?
David Bohm
É o grande problema dos suportes de comunicação virtuais. E a sua grande conveniência. Neste âmbito, e entre as chamadas redes sociais, o Facebook impõe-se pela maior ligeireza e desprendimento no processo comunicativo. Não há confronto, não há contraste nem antítese. Há o statement a vulso, com ou sem significado, mas uma qualquer afirmação que, quando muito, é reflectida, quase sempre anuída. Comentar, no meu entender, compreende um esquema de raciocínio mais complexo, com escolhas e as suas implicações. A comunicação assim sustentada não constitui desafio nem apresenta ambiguidade. Não questiona nem é questionada. E traduz a necessidade de ser ouvido sem ouvir, sem particularizar, com a maior amplitude possível e de forma indescriminada. E essa amplitude, para mim, é a de um grande e inexpressivo eco.
Esta conversa porque recentemente caí de um desses poleiros mediatizados pelo ecrã e pelo teclado, a julgar que há alguma coisa, algum dia, que substitua o diálogo. Como escreveu William Isaacs, um especialista na matéria: "In skillful discussion, you make a choice; in a dialogue, you discover the nature of choice. Dialogue is like jazz; skillful discussion is like chamber music". E isto fez-me lembrar sexo e natureza e espontaneidade. Experimentem lá levar alguém para a cama com música de câmara a tocar. Está tudo dito.
7 comentários:
Concordo contigo. O Facebook e afins são uma verdadeira boçalidade onde apenas se vê um status quo imaginário.
Tem a piada de encontrar aquele pessoal que não vemos há mil anos, mas depois da euforia inicial ficamos naquela de "se não via esta pessoa há tanto tempo é porque provavelmente não tinha grande interesse nela e vice-versa". A verdade está algures no meio.
Não sou tão radical. O imediatismo é irresistível e uma forma de purga basta-juntar-água para muita gente (e o que dizer do Twitter?). É uma coisa real quando tens 300 seguidores, mas inconsequente do ponto de vista comunicativo.
Tudo isto é algo imaginário, sim. Farmville? WTF? Os amigos de outros tempos são agora imaginários, mas ganharam ali o seu cantinho de boas intenções e zero produtividade.
A verdade é que nada muda. Só há mais é convites para tudo, que toda a gente ignora.
Mas por outro lado... Aconteceu-me há dias encontrar um amigo nosso que já não via desde os tempos em que não tinha cabelos brancos (ele e eu) e apesar desse lapso temporal, houve uma certa familiaridade entre nós, no sentido de saber o que ele andava a fazer através do Facebook. Em contrapartida ele pouco sabia do que eu andava a fazer, uma vez que não divulgo essas coisas lá.
E apesar de tudo, a maior parte dos meus amigos são os de há dez ou mais anos atrás, apesar de no entretanto ter conhecido toneladas de pessoas. Lembro-me de termos tido uma conversa acerca deste assunto naquele barzinho ao cimo dos Combatentes, com o Arinto e algumas cervejas a mais. A vida muda, evolui, o tempo escasseia e o convívio é cada vez menor. Vou jogar no euromilhões :P
Pois, que a vida muda, mas se evolui... Pelo menos tens sorte de conhecer malta nova, eu é raro. E embora não divulgue nada no facebook, o blog serve para manter um contacto mais 'intelectualizado', e é assim que sei coisas que se passam, p.ex., na tua vida. Um blog é diferente, é mais expressivo, permite manter uma noção mais clara. Acho eu. E deu-me nostalgia e pergunto-me porque é que, à falta de Coimbra, um gajo não se encontra por Lx. É mais provável vires tu cá do que eu a Aveiro ou ao Sabugal. Pega lá no telefone ou no mail e marca aí uma cerveja pelos velhos tempos.
LX? Tem sido raro... Passei aí segunda feira, mas fui só a uma reunião e back to home. Da próxima vez que tiver algo marcado, aviso com antecedência para irmos até ao Bairro.
Combinado, cá te espero. Logo vemos quem tem mais cabelos brancos :P
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