16.7.09

Sem vocação



Não me sinto à altura da Web 2.0, com certeza que não. Não pretendo ser encontrado no Facebook, não me entusiasma a vacuidade ruidosa do Twitter, não ostento uma catrefada de endereços na barra lateral d' Os 7 Salmonetes, aliás, tenho pouca ou nenhuma paciência para blogs que não contenham as palavras “gadget” ou “cinema”, não há por aqui uma média de 21 comentários encorajadores por post – incluindo coisas como “Gostei muito do teu post, sobretudo daquela parte em que dizes [abre aspas citação fecha aspas]” – e, se bem me parece, só havia uma pessoa a passar por aqui e, infelizmente, reformou-se. Se a família conta, os meus irmãos dão uma espreitadela. É um bocado como aquele apoio resignado de bancada, à espera da última competição escolar, na piscina do bairro. Apanham uma grande seca para nos verem ficar em 4º numa coisa que dá medalhas de plástico. “Estiveste muito bem, estiveste quase lá”. Ou então é porque acham mesmo que eu tenho vocação para ser o tontinho rabioso que se debruça a espreitar pela janela iluminada dos outros e a escarnecer da sua felicidade (certo, a imagem é de John Cheever, mas assenta-me bem), e vêm rir-se com o meu desmando. Caraças, se o meu conceito de comunicação é fundamentalmente arcaico (não que haja algum mal nisso) e tende a obliterar os elos virtuais, e se nem como instrumento de trabalho consigo usar isto – não há pachôrra para showcases de iluminação e saber –, por que raio ainda mexe? Não sei. Na volta estou à espera que o meu pai passe das palavras à acção, ou seja, que leia efectivamente um dos meus posts publicados depois de 2005, e me dê o seu beneplácito, para que possa descansar em paz. Quem sabe não me dedico aos papiros, com peninha de ganso, e reclamo o meu lugar na história dos bloguistas à frente do seu tempo.

15.7.09

O ecrã é demasiado pequeno para Angela Bassett



Hollywood não soube o que fazer com Angela Bassett. Como não sabe o que fazer com nenhuma actriz afro-americana que queira ser levada a sério. Não, também não sabe o que fazer com Halle Berry, se é que a podemos considerar uma representante convencional de negritude no ecrã, e não o mero estereótipo da mestiça provocante. E, em última análise, Berry parece ter desistido de ser levada a sério, apesar de ser boa actriz. Mas Bassett é melhor. Explodiu no grande ecrã em What’s Love Got To Do With It, um filme que era pequeno demais para a sua intensidade mas que fazia justiça ao seu preciosismo. Um físico robusto e feições atípicas, algo agressivas, se já limitativas numa actriz branca, transformaram-se na pecha de Bassett, que foi imediatamente catalogada como a tough broad de serviço, o que siginificava que lhe estava vedado o protagonismo como estrela romântica ou como consciência moral em filmes de mensagem. Era demasiado dura, e negra, para o gosto dominante. Enquanto Jodie Foster enfrentava o sistema, Meg Ryan enxaropava o ambiente e Julianne Moore fazia filmes arty, Bassett era relegada para papéis secundários que poderiam beneficiar com a autoridade da sua presença. Malcolm X, Waiting to Exhale e Contact são disso exemplo. Raramente o seu potencial terá sido tão bem aproveitado como em Strange Days, com Kathryn Bigelow a conferir-lhe uma aura de bela heroína, magoada e combativa, que não teve repercussões de maior. Reencontrei-me com Angela Bassett no outro dia, quando liguei a TV para ver um daqueles enlatados americanos que passam na RTP2, por sinal o mais decente deles todos, comparado com coisas mentecaptas como Fringe e The Mentalist. Era uma nova série de E.R., e a actriz surgia na pele da Dr.ª Cate Banfield, uma chefe de serviço de pulso firme, claro, mas com uma insondável vulnerabilidade. E lá estavam a mesma disponibilidade emocional, a subtileza, o olhar penetrante, a elocução precisa... Uma cena em particular, quando Banfield se despede de uma médica que abandona a profissão, com vontade de a demover, pois viu nela o que mais se aproximava de uma amiga, é um prodígio de contenção e veracidade, com todos os sentimentos contraditórios da autoridade que se desfaz perante o desamparo emocional a virem ao de cima, em poucas palavras, num par de minutos. Uma vez mais, Angela Bassett eleva o nível dos projectos em que participa, mas estes continuam a ser pequenos demais para ela.

14.7.09

Piedosos equivocados



"I've been the victim of that kind of intense kindness masking extreme stupidity."

Tilda Swinton

Foto: Raymond Meier

Mantra

O país que foi c'as couves

A couve, caulosa e enrugada, de forma achatada, poderia servir de metáfora à rusticidade de um Portugal que Bordalo tantas vezes satirizou. Por outro lado, colocá-la no centro das mesas burguesas, para as quais, de outra forma, não seria convidada, foi uma forma astuciosa e esclarecedora de a homenagear. E o prenúncio de algo.

Pode encontrar-se aqui.

13.7.09

Arejar



Uma cama revolta, para ninguém se deitar e descansar. Desfizemo-la milhares de vezes, tantas vezes que nunca a conhecemos serena. A cama era uma boa ideia, um ideal, talvez, mas nunca foi levada a sério. Raramente conheceu lençóis novos e nunca nos mereceu uma coberta aprimorada. Estava sempre desfeita, caramba, cara desgrenhada, inquieta, impreparada. Tinha uma capa rude e interesseira, para fazer de conta que se dispunha. Mas por baixo estava sempre na mesma antecipação tumultuosa, tão enérgica quanto estéril. Foi uma cama engraçada, a nossa, enquanto nos privámos de noites e conquistámos os dias. Mas tudo muda de figura quando paramos para repousar, e a cama que fizemos está partida pelo peso da espera, consumida pelo vazio das intenções, sem função, sem apego, sem remédio. A cama era a nossa, mas nunca a partilhámos.

Hard copy 11

Oh my God, it's huge!



1 gigabyte há 20 anos atrás. 1 gigabyte hoje em dia. O progresso, no seu percurso irredutível, tudo miniaturiza. Mais ou menos o mesmo que o Ronaldo faz à inteligência humana.

Suburban sexy 12

Outros voos



Porquê percorrer um caminho espinhoso quando podes abdicar das tuas convicções. As convicções têm sempre um preço. Não hei-de ser eu a pagá-lo. A convicção é um mero ponto de vista. Como a honestidade, aliás. Não sei porque dizem que podes optar, que tens auto-determinação. Isso apregoam os gajos que trocaram os seus critérios por um leasing automóvel. Nem valem as facturas do gasóleo. E enquanto se agarram à barcaça com as unhacas do empirismo, vêem os artolas naufragar. Por cada artolas que sai de cena, são menos escrúpulos a pesar nas tábuas. É tempo de fechar a moral no caixão com os pregos do corporativismo luso. Eu quero ser como os outros, como os tais.

É preciso pensar muito pouco para se atingir tal grau de consciência.

2.7.09

Cabeça em água





A Fnac precisa desesperadamente de um copy...
Não, obrigado.

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