28.11.08

Só o presente tem sentimento

Ao fim de um certo tempo deparamo-nos com a inevitável confusão entre saber amar e saber estar.

Era uma casa muito engraçada



Mas não tinha nada, não tinha nada.

Sun in an Empty Room, Edward Hopper, 1963

Kelly watch the stars














Apanha uma moça trigueira com as luzes neon e é vê-la a correr estrada da perdição abaixo.

Cantar de Gala



Tenho a dizer que nunca mais fico hospedada naquela pensão e que da próxima vez é melhor que os cartões não sejam escritos à mão.



É para devolver no fim, ok?




'Tão a gostar, hã, 'tão? E olha que ficou tudo muito em conta!



Psst, vous, you, achtung, este prémio é seu?



E uma gaja aqui toda apertadinha...



Isto não anda? O último autocarro é às onze.




Super, super!...Quem é o gajo?




Foi o que se pôde arranjar, está bem?




Estou sem palavras. O foco não me deixa ler.




Posso ir? Tenho de decorar as deixas do meu novo filme, La Nonne qui Aimait Manger à Poil.

Marketing para quê?



"O nosso forte é a confiança. Tipo, não vale a pena entrar em despesas que aqui a malta conhece-se toda". Só há pauzinhos de plástico para o café.



A loja não se chama Roswell nem Eu Quero Acreditar, mas o manequim irá decerto atrair elementos anónimos da Sociedade Portuguesa de Ovnilogia. Um chapeuzinho daqueles só pode ser código.



Quando o nome próprio se encontra com o verbo no imperativo, para um efeito de grande intensidade e persuasão. Alternativa estilítica: "Anda cá que o senhor já te sara, Portugal!".



Este rapaz de olhar prevenido e sorriso mais ou menos rasgado dá a cara e um je ne sais quoi, que prefiro continuar a desconhecer, aos discos rígidos Canyon. Caixa mai'linda, fosca-se.

Terapia para que te quero

Um forte motivo para espreitar este filme



- Ouve bem miúdo, é assim que se faz.

Ontem fui ver o Body of Lies e gostei mais do que estava à espera. Ridley Scott é de um profissionalismo portentoso e o que lhe falta em génio tem em elegância, concisão e pragmatismo. O senhor não dá um passo em falso (bom, sim, por vezes) e faz empalidecer qualquer jovem aspirante a maestro de acção. Ponham os olhos no homem, Ratner, McG e restante escória. Ou melhor, não ponham e dediquem-se aos videojogos. O argumento de William Monahan é sólido, com umas tiradas memoráveis que Russel Crowe degusta devidamente, mas pareceu-me uma versão simplificada de Syriana, com mais espectáculo e menos consternação. Leonardo DiCaprio investe-se no papel, como sempre, de resto, mas está a léguas do carisma dos seus colegas de elenco, sendo especialmente cilindrado por Mark Strong, o segredo mais bem guardado do cinema, teatro e TV britânicos. Não por muito tempo: nem segredo nem britânico. Se virem o filme percebem porquê.

27.11.08

Nem a brincar



Van Gogh já sofreu todo o tipo de indignidades. Em vida e depois de morto. E não há limites. Quem faz dinheiro com isto pode, de resto, explorar um filão inesgotável. Proponho, para o próximo Natal, uma bonequinha Sylvia Plath em rigor mortis (não articulada, portanto), ainda com o forno na cabeça, e, mesmo a tempo das celebrações pascais, um pequeno Mishima de espada atravessada (esta sim, articulada). Viva a sociedade de consumo e a sua mitomania em PVC.

A hora de Daldry


Stephen Daldry está de regresso. Baseado num romance de Bernhard Schlink, adaptado por David Hare, The Reader respira classe por todo o lado, a começar pelo cartaz. Menos não seria de esperar do realizador de The Hours, um livro que muitos consideravam intransponível para cinema. Kate Wislet cimenta a sua posição de class act de uma geração, acompanhada pelo subvalorizado Ralph Fiennes. Tempos houve em que Fiennes era considerado para todo e qualquer papel, mas as suas escolhas profissionais erráticas e uma atribulada vida pessoal acabaram por, de certa forma, encostá-lo à box. Assista-se ao renascimento do senhor galês, cujo nome se pronuncia pomposamente [rayf faines] em filmes como The Duchess e, em particular, In Bruges. E digam lá se há psicótico com mais estilo.

Tiro na roda


















Yes. The planet's blood, motherfucker!

24.11.08

Filosofia do dia



Ricardo:

"Sabiam que o mundo vai acabar em 2012?"

João Pedro:

"É provável."

Mudança



Algo radical, de hábitos alimentares.

Procura-se sanidade mental

médico / criativo

Part-Time


Empresa de Marketing Farmacêutico em franca expansão, procura clinico geral (residente no concelho de Oeiras) com “veia de de Publicitário(a)”.


Integração em equipa jovem e dinâmica (ficando integrado em equipa com designers e accounts)
Requere-se (gosto) Capacidade para a elaboração (em equipa) de racionais médicos, visitas e concepção de campanhas, literaturas, entre outros desafios interessantes.

Horário flexível e adaptável às funções que já exerce (2 horas por dia, ou 6 horas por semana, em média).


Se sente dentro de si potencial criativo, porque não nos telefona… visita ou fala connosco.
Registo | Login: Para responder a esta oferta terá primeiro de se registar ou fazer login.

Visto no site
Carga de Trabalhos

Este anúncio merece uma análise detalhada do princípio ao fim. Começando pela veia, passando pelo que sente dentro de si e desembocando no pleonasmo épico. Quando pensava que "designer / copy" já era esfarelar a corda de tanto esticanço, eis que alguém se lembra de tão exótica polivalência. Para "responder a esta oferta" terá de estar completamente desesperado, se não doido varrido, sobretudo se pensar que esta empresa é algo mais do que uma chafarica nauseabunda. Até a Herbalife teria mais noção. O que se segue, "engenheiro alimentar / ladrilhador", "controlador de tráfego aéreo / arquivista", ou, sei lá, "astrólogo / apresentador de TV"?

Mensagem evangélica























I'm Jesus fucking Christ, now fucking pay me.

No canal da Xana a emissão está com delay



Ao folhear o livro Mais Luz, de Alexandra Solnado, constato, Jesus, que tens, mostras, dás, Jesus, uma grande força, uma força nice à anáfora, ao assíndeto e ao vocativo. A tua mensagem, Jesus, a tua voz, parece um anúncio à 7 Up saído dos anos 80. Devias mudar de agência de comunicação, de comunicação, mudar, sempre, evoluir, sempre. Tu.

Por outras palavras








A mais saloia alternativa a admissão de culpa parece-me ser:

"Aguardamos com serenidade o desenrolar dos acontecimentos".

20.11.08

Se calhar é por isso parte 2


"Polaroid is not a camera - it's a social lubricant".

John Hegarty

Se calhar é por isso parte 1

















"There's still more poetry than science in business".

Edwin Land

O que uma cambada de líricos nos arranjou.

Recalcamento

Nada é preto no branco


Nada é preto no branco.

As coisas nunca são como são
mas antes como deveriam ter sido.

Têm sombras e contornos
onde tu os encontras
e não onde a luz se fez sentir.

Têm brilhos inesperados e matizes indomáveis
em miserabilismos triviais.

Nada é como tu queres que seja.

Porquê insistir na justiça da interpretação
quando o que tu debitas é uma cartilha resumida,
um vislumbre incompetente da realidade?

Preto no branco só reflecte a tua ausência de cor.
A tua ausência de espírito.

Para ti pode ser preciso.
Para mim é um esboço rebuscado da tua ignorância.


Contribuição para a revista Mutante, Dezembro 2008

Carta ao Sr. José

Tenho a dizer-lhe que não canta bem. Não convencionalmente. Isto é, não há na sua voz a espessura de um intérprete nato, não tem a amplitude de um crooner, não tem o vibrato entusiástico de um popster. Mas o que tem, é único. É quente, meigo e íntimo. Chega mais longe do que o virtuosismo treinado dos vendedores de emoções. Confesso que nunca o vi e não construo imagem alguma para além das suas canções. E até em ritmo electrónico a sua entoação soa bem, por isso lhe perdoo as remisturas de “Killing for Love”. Em todo o caso, continue a aplicar a sua voz suave ao abandono folk e a iluminar os meus dias. Ninguém diria que é sueco. Mas também ninguém diria que um sueco se iria chamar José.

12.11.08

Gata em necessidade de zinco

A Arisca anda muito preocupada com a recessão alimentar e decidiu investigar um bocadinho mais sobre os alimentos a preservar e as principais necessidades nutricionais. Até já substituiu a ração. Só ainda não consegiu largar o tabaco.

Ora aí está


























Não sei se é ingenuidade ou sentido de humor dissimulado, mas é uma possibilidade como tantas outras.

Daqui p'rá frente

10.11.08

Gone baby gone

Biografia a sete pés

No início havia o verbo: "berrar".

Depois, uma forma única de expressar apreço pelo mundo que o recebia:

"Cocó!". Substantivo adjectival.

Aos 9 anos, sofre um trauma irremediável: os seus pais mascaram-no de cowboy no Carnaval. É preso pela GNR à saída da papelaria, loja de brinquedos e sortidos Labesmal.

No dia seguinte, o Diário de Abrantes dá destaque ao anão gatuno, apanhado em flagrante com uma Abelha Maia e um Topo Gigio em PVC no coldre.

Foge do Ribatejo depois de partir um taco de minigolfe nas costas do irmão do meio e, aos 13 anos, ganha a vida em feiras e bares como profissional de danças exóticas, sempre munido de um gorro de campino.

A juventude é marcada pela inadaptação. A idade adulta pelo amadurecimento. Já não atira objectos cortantes.

Ansioso por encontrar o seu lugar e por aprender a manejar um taco de golfe com destreza, alista-se nos Pequenos Burgueses.

Muda de rumo mas não de ramo. Emprega-se numa empresa séria e espera que a mudança ocorra. Com ou sem Obama.

5.11.08

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