22.9.06

O subtil Major


"Não se meta comigo. Não se meta comigo, porque a minha vida é tão digna como a sua", disse Valentim Loureiro, em declarações à SIC Notícias, numa reacção às declarações do presidente do Benfica, que ontem associou o ainda presidente da Liga à obtenção de resultados falseados nos jogos de futebol.

Huum… O que é que ele quererá dizer com isto? “…Amigo, se preza a sua vida, a dos seus, os seus bens e os bens dos que lhe são queridos, não queira entrar nesta disputa complexa, que poderá ter consequências desagradáveis e mesmo pesarosas”. Ou talvez: “A minha vida é tão digna quanto a sua, amigo, não se meta comigo porque eu sei cá de umas coisas que devem interessar aos pasquins” [“digna” com o sentido de parábola saída dos evangelhos do Major: “chafurdice”, “nojeira”, “esterqueira completa”, “imundície sem paralelo”, porqueira viciosa”, “escabrosa espurcícia enferretada”]. Algumas nuances interpretativas poderão conferir um teor insuspeito a estas palavras: “Sou apenas um ser-humano, com os meus defeitos e as minhas falhas. Não me julgue dessa forma sumária, não se meta comigo porque sou, afinal, uma criatura frágil. Não quer ser antes meu amigo?”. Na versão mais arrevesada, mas igualmente válida, poder-se-á encontrar uma manifestação de receios atávicos: “’Tás-te a meter comigo, ‘tás-te a meter comigo, palhaço de merda? Queres levar nos cornos, g’anda paneleiro, queres, queres, queres, queres? Tázolhar? Nunca vistes, ó car***!!!”. Que dizer, é a psique quase insondável de um autêntico major português.

18.9.06

Isto & Aquilo


Easy Work, Don Gummer, 1999

Tudo cai no devido lugar


















Ter a consciência do seu devido lugar é apanágio de pessoas inteligentes. Espero eu.

Pupupussy



...The Pupu is back.

Quem foi que disse?...


"Nós não temos uma democracia: temos um regime de regras formais que permitem a democracia."

Agravando a situação


Ninguém disse ao Miguel Carvalho que é um perfeito idiota? Quem o instituiu como cronista? Por que razão está este gajo a obstipar uma coluna que poderia ser escrita por alguém com, por exemplo…ideias! Ah, esperem. Deve ser o cantinho da burguesia serôdia. Um espaço criado à imagem da auto-complacência babosa de Miguel Sousa Tavares: um prosaico porfiar de banalidades enfartadas que, não só não correspondem a uma realidade social (tão só fantasiada em meios urbanos enfastiados e dados à autofagia), como revelam muito pouco reflectir sobre o que provoca as mudanças, o que, delas, de bom poderá decorrer e o que, à luz do tempo, não passará de letra morta, porque, simplesmente, o sentido de humor tem esta impermeabilidade a tudo, incluindo sentenças de encharutados comichosos.

Miguel Carvalho vive tempos difíceis

Socorro!
Vivo tempos difíceis...

Não tenho carta, não conduzo e não sei distinguir um Fiat de um Volvo. Sou a piadinha favorita dos amigos e dos familiares: olham-me como algo de verdadeiramente jurássico e, às vezes por caridade, lá me dão boleia.

Demorei a comprar um telemóvel. Há uns anos acabei por ceder porque, qual patinho feio, já poucos me ligavam. Entre aparelhos perdidos e estragados, já lá vão uns três. A tecnologia vinga-se de tanto desamor e desapego, deve ser isso.

Num tempo de culto do corpo, da natureza, da praia, do mar, do surf e das boas ondas, não sei nadar. Qualquer fim-de-semana numa quinta com piscina é risota geral porque procuro sempre a parte reservada às crianças. «Olha para aquele matulão...»

Já dei comigo cheio de problemas de consciência por me atirar com parcimónia e beiços besuntados a um cabritinho de leite com batatinha alourada e arroz de forno. Os olhares em volta, das crianças e dos papás, foi de tal modo censório que encostei os talheres, pedi a conta e saí de fininho disposto a contribuir com 25 por cento do meu ordenado para a Sociedade Protectora dos Mémés de Forno.

Já comi duas ou três vezes em restaurantes macrobióticos e aí, sinceramente, descobri que o meu amor pelos outros era verdadeiramente digno de registo, tendo em conta o esforço que fiz para não perguntar onde é que, afinal, íamos jantar.

Durante semanas um simpático senhor de um ginásio da moda telefonou-me a perguntar pelo meu joelho direito só porque eu disse que, enquanto estivesse a fazer fisioterapia, não me apetecia decidir se queria ou não aceitar as fantásticas promoções que eles tinham para mim: um mês grátis para me amaciarem o lombo e prestações mensais bem em conta para me darem o corpinho com o qual, de resto, eu nunca sonhei.

Não vou de férias para Cancun, Coraçao, Fortaleza, Varadero ou Vilamoura e fico sem conversa numa roda de amigos.

Um funcionário da FNAC convidou há dias, de forma algo seca, um amigo a abandonar o balcão da cafetaria e a sentar-se numa mesa próxima porque não se pode fumar ao balcão. Para mim, foi novidade saber que, na FNAC, o fumo não circula e, até por isso, apeteceu-me fumar com ele.

Li na revista Pública que o facto dos homossexuais estarem progressivamente a sair dos armários – e ainda bem - está a ser aproveitado em termos comerciais para, perversa e sub-repticiamente, impor um estilo, um modo de vida, uma maneira de ser e estar, com linha de cosmética e histórias da carochinha à medida. Um dia destes dizem-me que não posso gostar de mulheres porque... não vende ou não é politicamente correcto.

Já deixei de ler Lucky Luke há uns anos pelo facto de ele ter trocado o tabaco de enrolar por uma palhinha. E daqui a uns tempos até Tom e Jerry vão deixar de fumar. Pior: vão aparecer aos nossos olhos como se nunca tivessem fumado.

Chega. Está decidido: vou fechar-me em casa e encher a despensa até abarrotar. Só entra quem disser a frase passe - «boa vida, vida da boa» - levar uma garrafa de vinho, uma caixa de charutos e souber cozinhar, pelo menos, uns rojões à minhota. A intolerância combate-se com a intolerância. Assim querem, assim têm. Se é preciso organizar a resistência, que se comece por algum lado.


Miguel Carvalho, VISÃO ONLINE, 24 de Agosto de 2006

15.9.06

O Luís já foi à Paris


O Luís já foi à Paris e, como ele, dezenas de outras criaturas, vivas e inanimadas e, eventualmente, alguns objectos, de materiais e formas diversificadas. Essa é a única razão atribuível ao entusiasmo de milhares de rapazinhos púberes por este produto de aviário dourado, que vêem assim os seus sonhos húmidos legitimados e a estremecerem en plein soleil. Não há mais nada a dizer quando a epítome da vacuidade trash se converte no ídolo de adolescentes e pré-adolescentes um pouco por todo o mundo. Perante a inanidade, a insuperável bimbalhice e a mais liminar ausência de talento – talvez lhe falte descobrir a sua verdadeira vocação, ou, pelo menos, deixar de a assumir como um hobby caseiro –, só prevejo a aplicação de boas e velhas técnicas pedagógicas à maneira do astuto Herodes, de forma a prevenir a propagação do mal. De repente não temos adolescentes tradicionais, temos a Village of the Damned a querer dominar o mundo, lobotomizada e impelida por um instinto maléfico seminal: eliminar todo e qualquer sinal de inteligência nas gerações vindouras. Nos dias que correm um queijinho fresco teria maior versatilidade e esperança de vida artística do que uma alforreca sintética como a Paris. Mas pronto, perdemos de vez a inocência quando a Ana Faria se reformou.

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